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A perinatalidade, da gestação até um ano pós-parto, é um período de crise para as mulheres que precisam se adaptar a simultâneas mudanças nos níveis biológico, psicológico e social resultantes da gestação, parto, pós-parto e as demandas da maternagem e de outros papéis familiares, conjugais e profissionais. Uma em cada cinco mulheres experimentam tal desafio de maneira tão intensa e sofrida que acabam desenvolvendo transtornos mentais na perinatalidade. Infelizmente mais de 50% das mulheres não são diagnosticadas precocemente e 75% delas não recebem tratamento e/ou suporte adequado. A ausência de assistência oportuna e adequada é um problema de saúde pública que impacta diretamente nos índices de morte materna evitável, sendo o suicídio uma das principais causas.

 

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Fonte: O Globo

 

Taxa de mortalidade perinatal

No mês de setembro, entre os dias 04 a 10/09/22, a Semana de Conscientização do Suicídio Materno busca chamar a atenção para um problema de saúde pública evitável que acomete 20% das mulheres no primeiro ano após o parto sendo o suicídio materno concluído com maior frequência entre 6 a 12 meses após o parto. Comportamento materno suicida está relacionado a desfechos obstétricos desfavoráveis como restrição de crescimento intraútero, prematuridade, descolamento de placenta, hemorragia, natimorto e baixo peso ao nascer.

O treinamento e a capacitação de profissionais de saúde acerca da psicodinâmica e da saúde mental da mulher na gestação e pós-parto é uma ferramenta essencial na política de promoção e apoio à saúde mental perinatal e prevenção de suicídio.

 

Riscos para o suicídio

São considerados fatores de risco para comportamento suicida (ideação, planejamento e tentativa): 

  • idade jovem,
  • vulnerabilidade social e ou financeira,
  • ausência de parceiro,
  • relação conjugal conflituosa e ou violenta,
  • falta de apoio social,
  • antecedentes psiquiátricos e
  • história pessoal e/ou familiar prévia de tentativa de suicídio ou ideação suicida.

A depressão e a ansiedade são transtornos mentais mais prevalentes entre as mulheres na perinatalidade e sua gravidade está diretamente relacionada com comportamentos suicidas.

Como prevenir?

A adoção de estratégias de prevenção ao suicídio perinatal são necessárias e incluem o rastreio sistemático de sinais e ou sintomas de adoecimento psíquico durante a gestação e pós-parto e encaminhamento para diagnóstico e tratamento especializado em saúde mental. Guidelines internacionais recomendam o rastreio de sintomas depressivos pelo menos uma vez durante o período perinatal sendo um dos instrumentos mais utilizados a Escala de Depressão Pós-natal de Edimburgo (EPDS), que inclui uma afirmação específica para investigação de pensamentos de automutilação. O treinamento e a capacitação de profissionais de saúde acerca da psicodinâmica e da saúde mental da mulher na gestação e pós-parto é uma ferramenta essencial na política de promoção e apoio à saúde mental perinatal e prevenção de suicídio.

Alinhada às recomendações de órgãos internacionais, o serviço de psicologia do Centro Ana Abrão e Banco de Leite Humano - Unifesp adotou em 2013 o rastreio sistemático para todas as puérperas atendidas no ambulatório de aleitamento materno. Pesquisas realizadas neste serviço revelaram prevalência significativa de sintomas de depressão e ansiedade entre as puérperas assistidas e a necessidade de encaminhamento para avaliação e tratamento psiquiátrico especializado.

Atendimento especializado

 

Nesse cenário, uma parceria entre a Escola Paulista de Enfermagem, Escola Paulista de Medicina e Hospital São Paulo/HU inaugura em 2019 o ambulatório Alínea - Saúde Mental Perinatal que realiza atendimento especializado às gestantes e puérperas atendidas nas unidades de internação e ambulatorial de obstetrícia, no Centro Ana Abrão e integra o grupo de cuidados paliativos perinatal Peri Acolhe. Desde sua inauguração foram assistidas mais de mil mulheres em acompanhamento psicológico e ou psiquiátrico especializado. Cursos, aulas, palestras e pesquisas são atividades realizadas pela equipe do Alínea visando a capacitação de outros profissionais de saúde acerca da temática - saúde mental perinatal.

Serviço

Os atendimentos acontecem de segunda a sexta-feira de maneira presencial ou remota, na dependência da necessidade e ou possibilidade de cada caso avaliado no momento da triagem, sendo elegíveis para atendimento no Alínea gestantes e puérperas atendidas no HSP e ou HU2 Unifesp.

O Ambulatório está situado no Centro Ana Abrão e BLH, rua Diogo de Faria 395.

Os encaminhamentos podem ser feitos por meio do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

  

Por Erika de Sá Vieira Abuchaim

Coordenadora do Alínea Saúde Mental Perinatal Unifesp. Vice-presidente do Grupo Regional de Língua Portuguesa Marcé Society. Professora Associada do Departamento de Enfermagem na Saúde da Mulher da Escola Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp). Orientadora Programa de Pós-graduação em Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Outras informações: clique aqui.

 

Referências

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  2. Chin, K., Wendt, A., Bennett, I.M. et al. Suicide and Maternal Mortality. Curr Psychiatry Rep 24, 239–275 (2022). https://doi.org/10.1007/s11920-022-01334-3
  3. Daisuke Shigemi, Miho Ishimaru et al. Suicide attempts during pregnancy and perinatal outcomes. Journal of Psychiatric Research, 133, 2021. doi.org/10.1016/j.jpsychires.2020.12.024
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  6. Abuchaim, Erika de Sá Vieira et al. Depressão pós-parto e autoeficácia materna para amamentar: prevalência e associação. Acta Paulista de Enfermagem [online]. 2016, v. 29, n. 6 [Acessado 13 setembro 2022] , pp. 664-670. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-0194201600093>. ISSN 1982-0194. https://doi.org/10.1590/1982-0194201600093.
  7. da Silva Meleiro, A.M.A., Correa, H. (2020). Suicide and Suicidality in Women. In: Rennó Jr., J., Valadares, G., Cantilino, A., Mendes-Ribeiro, J., Rocha, R., Geraldo da Silva, A. (eds) Women's Mental Health. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-030-29081-8_16