Ouça acima o conteúdo deste artigo.
O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) foi descrito em 1902 pelo inglês George Still. Trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento que tem forte impacto na aprendizagem escolar. Sua prevalência é discutida em inúmeros estudos, variando de 2.7% a 31.1% (HORA et al., 2015). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-V) menciona que se observa um “padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade” no TDAH.
Fonte: Kauvery Hospital
O diagnóstico se baseia numa série de sinais que devem ser observados frequentemente nos diferentes ambientes que a pessoa frequenta, como escola, em casa ou outros locais. Tais sintomas devem ser identificados antes dos 12 anos e deve haver ao menos seis sintomas para crianças e cinco para adolescentes e adultos para que se defina qual é o tipo do transtorno (DSM-V).
São descritos três tipos de TDAH:
- predominantemente desatento,
- predominantemente hiperativo-impulsivo e
- combinado.
No tipo predominantemente desatento, pode-se observar:
- Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e profissionais;
- Dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
- Parece não escutar quando falam;
- Não segue instruções e não termina tarefas escolares, domésticas ou deveres profissionais;
- Dificuldade em organizar atividades e tarefas;
- Evita, ou reluta, em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante;
- Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
- Distrai-se facilmente por estímulo alheios à tarefa;
- Esquecimento em atividades diárias.
No tipo predominantemente hiperativo-impulsivo, pode verificar-se que:
- Agita as mãos, os pés ou se mexe na cadeira;
- Abandona a cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
- Corre ou escala em demasia em situações nas quais isto é inapropriado;
- Há dificuldade em brincar ou envolver-se silenciosamente em atividades de lazer;
- É agitado, como se estivesse com o motor ligado a duzentos por hora;
- Fala demais;
- Dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido concluídas;
- Tem dificuldade em esperar sua vez;
- Interrompe as pessoas ou intromete-se em assuntos de outros.
No tipo combinado, há tanto manifestações de desatenção quanto de hiperatividade e impulsividade.
É preciso descartar outros transtornos psíquicos que expliquem os sintomas observados.
A Lei Nº 14.254, de 30 de novembro de 2021 foi aprovada após muitos anos de luta de terapeutas, professores, pais e pessoas com TDAH e transtornos de aprendizagem. Ela dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia, TDAH ou outro transtorno de aprendizagem. Segundo a lei o acompanhamento integral envolve:
- identificação precoce do transtorno,
- encaminhamento para diagnóstico,
- apoio educacional na rede de ensino e
- apoio terapêutico especializado na rede de saúde.
Foi uma grande vitória, no entanto, muito ainda precisa ser feito já que a formação docente nem sempre contempla de forma satisfatória as adaptações a serem feitas, a rede de saúde carece de serviços que atendam a esse público e, nas escolas, nem sempre há recursos materiais e humanos disponíveis.
Ouvir o aluno sobre seus sentimentos e necessidades deve ser uma prática constante, já que o próprio aluno deve ser o protagonista na construção de seu conhecimento e, muitas vezes, por experiência própria, ele já sabe o que funciona e o que não funciona com ele, principalmente quando está no Ensino Médio ou Superior.
Para começar, adaptações podem e devem ser feitas para que o aluno desenvolva ao máximo o seu potencial de aprendizagem por meio de estratégias que o auxiliem como:
- modificações no tipo de avaliação com seminários e atividades práticas,
- provas com enunciados mais curtos e diretos,
- com marcação dos aspectos mais importantes da questão em sublinhado ou negrito,
- mudança no prazo para realizar as provas, com acréscimo ou fracionamento do tempo de prova e na variedade de formas que a escola lance mão para pensar no processo de ensino aprendizagem,
- com atividades que permitam que o aluno seja ativo e possa deslocar-se na sala quando for necessário.
O professor pode ainda usar recursos para garantir que o aluno participe, como atividades em dupla, leitura compartilhada, tutoria entre outras.
O diagnóstico precoce e acompanhamento multiprofissional são essenciais para que aluno e família consigam compreender o quadro, comunicar a escola e modificar a rotina, tornando-a mais organizada.
Fonte: Simply Psychology
Ouvir o aluno sobre seus sentimentos e necessidades deve ser uma prática constante, já que o próprio aluno deve ser o protagonista na construção de seu conhecimento e, muitas vezes, por experiência própria, ele já sabe o que funciona e o que não funciona com ele, principalmente quando está no Ensino Médio ou Superior.
Por fim, vale a pena repensar no modelo de monitoramento do desenvolvimento dos alunos que temos hoje. Um estudo recente sobre o desempenho de alunos americanos com TDAH durante a pandemia (LUPAS et al., 2021) revelou que esses alunos não tiveram piora em sua performance nesse período. Isto se deve aos programas de resposta à Intervenção que garantem monitoramento e intervenção constante para todos os alunos. No Brasil, estas iniciativas surgiram recentemente, mas ainda não são uma prática frequente. Esperamos que se chegue a este estado de vigilância constante do desenvolvimento que garanta intervenção precoce e educação de qualidade. Se isto ocorrer, não precisaremos de um dia ou mês para ficarmos atentos aos alunos com TDAH ou qualquer outro transtorno, pois este cuidado e atenção serão inerentes ao modelo educacional brasileiro.
O ebook Acessibilidade para os Estudantes com Transtorno do Déficit de Atenção/hiperatividade: Orientações para o Ensino Superior faz parte da coleção de Materiais que foram produzidos por professores da Unifesp, e contou com a colaboração de professores externos. Clique AQUI para fazer o download.
Por Marisa Sacaloski
Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia, especialização em distúrbios da comunicação humana, distúrbios da audição, psicopedagogia, violência doméstica contra a criança e o adolescente, libras e educação especial, mestrado e doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana. Tem experiência nas áreas de Educação Especial, Libras, Psicopedagogia e Fonoaudiologia, com ênfase em Audição, atuando principalmente nos seguintes temas:educação especial e inclusiva, fonoaudiologia escolar, audiologia, triagem auditiva, transtornos e dificuldades de aprendizagem e inclusão social da pessoa com deficiência. Professora da Disciplina de Distúrbios da Comunicação Humana do Departamento de Fonoaudiologia - Escola Paulista de Medicina - EPM/Unifesp. Outras informações: clique aqui.