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Um novo estudo publicado na revista científica Inflammation Research, realizado por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), lançou luz sobre as atividades enzimáticas em pacientes com Covid-19 e sua potencial influência na regulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS). O RAAS controla a permeabilidade vascular e a vasodilatação, bem como a inflamação. Esse sistema desencadeia reações biológicas cruciais para restabelecer o equilíbrio interno do corpo.

 

Avaliação e Resultados

Liderada por uma equipe de pesquisadores dos Departamentos de Biofísica e de Medicina da EPM/Unifesp, a pesquisa teve como foco a avaliação das atividades enzimáticas de ACE2, ACE, DPPIV, PREP e CAT L no soro de pacientes com COVID-19, agrupados de acordo com a gravidade dos sintomas: leve, moderado e grave. A comparação dessas atividades com um grupo sintomático, mas negativo para COVID-19, revelou informações surpreendentes sobre o funcionamento dessas enzimas em pacientes infectados pelo vírus SARS-CoV-2.

Os resultados indicaram um aumento significativo na atividade da enzima ACE2 nos pacientes graves com COVID-19 em comparação com o grupo de controle. Ao contrário, a atividade da enzima ACE estava diminuída nestes pacientes, gerando um desequilíbrio na relação entre ACE2 e ACE. Esse desequilíbrio potencialmente resulta em disfunções no sistema RAAS, o que pode ter implicações sérias para os pacientes com COVID-19.

Os cientistas também verificaram que as atividades enzimáticas de DPPIV e PREP diminuem conforme a gravidade dos sintomas dos pacientes com COVID-19, enquanto a atividade da enzima CAT L aumenta. Além disso, também foi observado uma correlação positiva entre comorbidades, níveis elevados de proteína C reativa (PCR) e D-dímero com a gravidade da doença.

Os entendimentos obtidos através deste estudo são cruciais para compreender melhor a fisiopatologia da Covid-19 e suas possíveis implicações no sistema RAAS. Isso pode contribuir para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas inovadoras no controle da infecção pelo SARS-CoV-2.

O estudo começou como projeto de pesquisa, envolvendo análise de pacientes em diferentes estágios da doença. "Selecionamos e dividimos em três grupos: pacientes leves, moderados e graves. Avaliamos as lesões e outros problemas. Verificamos que em algumas famílias todos tinham as formas graves da Covid-19", explicou Gustavo Ferreira da Mata, doutorando da Disciplina de Nefrologia da EPM/Unifesp.

 

Importância das descobertas 

A pesquisa pioneira abre portas para uma compreensão mais profunda da relação entre a COVID-19 e o sistema RAAS, fornecendo subsídios valiosos para abordagens terapêuticas inovadoras. Embora sejam necessárias mais pesquisas para entender a relação entre atividades enzimáticas e COVID-19, o estudo oferece um vislumbre promissor para o desenvolvimento de estratégias direcionadas para o RAAS no controle da infecção pelo SARS-CoV-2 e a melhoria da saúde dos pacientes.

 imagem artigo enzimas

A entrada do vírus SARS-CoV-2 é mediada pela CAT L, iniciando a inflamação. Níveis aumentados de ECA2 solúvel e níveis reduzidos de ACE, PREP e DPPIV promovem o acúmulo de peptídeos pró-inflamatórios. Essas enzimas juntas compõem uma ativação proeminente de vias pró-inflamatórias, contribuindo para danos em órgãos e piora de pacientes.

 

"A contribuição mais significativa deste estudo reside na habilidade de quantificar a atividade enzimática, uma medida intrinsecamente crucial para a função enzimática. Afinal, mesmo que o organismo esteja gerando uma grande quantidade de uma determinada enzima, sua atividade efetiva é o aspecto que verdadeiramente importa. Isso porque existe a possibilidade de que uma enzima esteja sendo produzida em grande quantidade, mas sua atividade esteja inibida, resultando em um impacto limitado ou nulo", ressaltou Raquel Leão Neves, primeira autora do estudo e pós-doutoranda do Centro de Pesquisa e Diagnóstico Molecular de Doenças Genéticas do Departamento de Biofísica (EPM/Unifesp).

João Bosco Pesquero, coordenador do estudo, acrescentou que "hoje, grande parte dos estudos está buscando formas de impedir que o vírus entre na célula. A importância do nosso trabalho é mostrar que outras enzimas são importantes na clínica do paciente e apontar a relevância dessas outras atividades para o desfecho do quadro de cada paciente."
“A ideia futura seria utilizar a atividade dessas enzimas como possíveis marcadores para identificar a gravidade da doença. E usá-las no prognóstico dos pacientes e antecipar os cuidados médicos”, acrescentou Jéssica Branquinho, também primeira autora do estudo e pós-doutoranda do Centro de Pesquisa e Diagnóstico Molecular de Doenças Genéticas do Departamento de Biofísica (EPM/Unifesp).

 

Parceria dos departamentos

O trabalho conjunto entre os Departamentos de Biofísica e de Medicina da EPM/Unifesp foi fundamental para a condução do estudo. O docente do Departamento Biofísica da EPM/Unifesp, João Bosco Pesquero, enfatizou: "A ideia é fazer uma junção entre a parte básica e a parte clínica. Para isso, o nosso centro estabeleceu colaborações com vários grupos clínicos da Unifesp, Unicamp e USP, dentre eles a nefrologia, hematologia, dermatologia e outros."

A pesquisa intitulada como ACE2, ACE, DPPIV, PREP and CAT L enzymatic activities in COVID‑19: imbalance of ACE2/ACE ratio and potential RAAS dysregulation in severe cases sob autoria de: Raquel Leão NevesJéssica BranquinhoJúlia Galanakis ArataClarissa Azevedo BittencourtCaio Perez GomesMichelle RiguettiGustavo Ferreira da Mata
Danilo Euclides FernandesMarcelo Yudi IcimotoGianna Mastroianni Kirsztajn; e, João Bosco Pesquero

 

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Da esq. à dir.: Raquel L. Neves, Clarissa A. Bittencourt, Gustavo F. da Mata, Júlia G. Arata, Marcelo Y. Icimoto, Jéssica Branquinho, João B. Pesquero. - Foto: Andréa Pelogi/ComunicaSP