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As infecções hospitalares, também chamadas de infecções relacionadas à assistência à saúde (Iras), são uma ameaça à segurança do paciente. As Iras estão entre as principais causas de morbidade e de mortalidade nos serviços de saúde e da elevação de custos para o tratamento do doente. Embora muitos progressos tenham sido feitos na prevenção de infecções associadas à assistência à saúde, há muitos desafios que precisam ser superados. A prevenção das infecções hospitalares e da resistência antimicrobiana devem ser vistas como um esforço multidisciplinar que envolve toda equipe de assistência ao paciente.
O mês de maio, nos traz três importantes datas que devemos lembrar:
- 05/05 - Dia Mundial da Higiene das Mãos: instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS);
- 12/05 - Dia Mundial da Enfermagem: em homenagem a Florence Nightingale, que nasceu em 12 de maio de 1820, uma lutadora pela segurança do paciente com as práticas de higiene nos hospitais; e
- 15/05 - Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares em homenagem a Ignaz Semmelweis (1847) e instituída no Brasil pela Lei nº. 11.723/2.008.
Ignaz Semmelweis (1818 – 1865) descobriu que a incidência de infecção pós-parto poderia ser drasticamente reduzida pela desinfecção das mãos. Pintura: Robert Thom
Há 175 anos, o diretor médico e obstetra Ignaz Semmelweis defendeu a prática de lavar as mãos com hipoclorito de cálcio como uma atitude obrigatória para os médicos e estudantes, em um Hospital Geral de Viena. Semmelweis observou importante redução na taxa de mortalidade das puérperas que desenvolviam sepse puerperal, após a implantação da higiene das mãos. Ele relacionou as mortes das puérperas com as mãos dos médicos e estudantes que eram contaminadas por “partículas cadavéricas” na sala onde estudavam peças anatômicas no início das manhãs, antes de irem realizar os partos. Na época, não se conhecia a origem microbiológica das infecções, posteriormente comprovadas por Louis Pasteur, Ferdinand Cohn e Robert Koch.
Outro grave problema que atinge os hospitais brasileiros, principalmente as unidades de terapia intensiva, é a emergência de microrganismos resistentes aos antibióticos. Estamos ficando sem alternativas terapêuticas para tratar diversas infecções hospitalares e as opções disponíveis têm custo elevado. O foco principal do controle da resistência microbiana está na prevenção das infecções com intensificação de três processos: a higiene das mãos, a limpeza e desinfecção do ambiente e no gerenciamento do uso adequado de antimicrobianos no tratamento das infecções. São raras as instituições brasileiras que promovem trabalho consistente de prevenção da resistência microbiana, incluindo a rede privada.
Campanha de higiene das mãos do Hospital São Paulo, Hospital Universitário da Unifesp, 05 de maio de 2023. Imagem: Arquivo Pessoal
A higiene das mãos é reconhecida, mundialmente, como a medida mais importante na prevenção das infecções. É um dos pilares no controle das infecções hospitalares, incluindo aquelas decorrentes da transmissão cruzada de vírus, bactérias, fungos e microrganismos resistentes aos antibióticos.
O Brasil tem um importante Programa de Controle de Infecção Hospitalar que tem sido apoiado por diversas entidades nacionais e internacionais. Porém, torna-se necessário maior investimento dos poderes públicos em práticas de prevenção de infecções. É necessário ampliar os programas de formação dos profissionais de prevenção e controle das infecções hospitalares, o que torna mais importante o papel dos hospitais de ensino, principalmente ligados as instituições universitárias.
Entidades de fomento como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) têm auxiliado projetos de pesquisa no combate a resistência antimicrobiana como a Chamada CNPq/MCTI/CT-Saúde nº 52/2022 - Ações em Ciência, Tecnologia e Inovação para o enfrentamento da Resistência Antimicrobiana (RAM) que a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo e a Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) foram contemplados e o Programa Cepid (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão) apoiado pela Fapesp.
Os Hospitais Universitários têm papel fundamental na formação de especialistas multidisciplinares altamente qualificados para o país como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, biólogos que poderão gerar conhecimento em pesquisas de alto nível como atuarem em diversas instituições brasileiras melhorando a qualidade assistencial e a segurança do paciente.
O país avança no controle das infecções hospitalares e no combate a resistência antimicrobiana, porém, no atual cenário, de crise econômica e assistencial, especialmente dos hospitais de atendimento público ligados ao Sistema Único de Saúde, é fundamental valorizar os programas de prevenção e controle de infecção hospitalar, tendo como princípios a ciência, a ética, a empatia e colocando o paciente como centro da assistência segura.
Autores
Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros
Professor Associado da Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo – SPDM - Unifesp. Pesquisador do CNPq e diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI). Outras informações, clique aqui.
Dayana Fram
Professora Afiliada da Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e enfermeira doutora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo – SPDM – Unifesp. Outras informações, clique aqui.