ptenes

Entre as várias causas de doenças e mortes provocadas pelo consumo do tabaco, destaca-se o uso do cigarro eletrônico. O uso crescente entre os jovens está sendo observado em vários países, incluindo o Brasil.
O primeiro cigarro eletrônico, “smokeless non-tabacco cigarette” (cigarro com tabaco sem fumaça), foi desenvolvido e patenteado por Herbert A. Gilbert, na Pensilvânia (EUA), em 1963. A chamada 1ª geração de cigarro eletrônico tinha (o formato) a forma e cor do cigarro convencional de tabaco. Com o avanço da tecnologia, os dispositivos eletrônicos de fumar foram mudando a forma e na atual geração eles podem ter a (aparência) forma de uma caneta, de pen drive, entre outras formas modernas (1).

hand holding electronic cigarette

Apesar deles ainda serem chamados de cigarro eletrônico, esse tipo de dispositivo eletrônico (“cigarro”) é mais frequentemente denominado do inglês vaping devido a falsa sensação de somente existir vapor de água na fumaça inalada. Com o avançar dos dispositivos, vários produtos químicos foram adicionados à nicotina como conservantes ou aromatizantes: álcool benzílico, benzaldeído, vanilina, acroleína, diacetil, tetrahidrocanabinol, os quais são inalados juntos. Várias destas substâncias são cancerígenas (2).

O início da dependência entre os jovens

Já foi constatado que o uso de cigarros eletrônicos aumenta a chance de iniciação do uso do cigarro convencional entre aqueles que nunca fumaram. A iniciação com cigarro eletrônico entre os jovens se dá pela necessidade de inserção no grupo, por acreditar que ele não é nocivo e pelos diversos sabores colocados à disposição do jovem usuário. Como todos eles têm um alto teor de nicotina, à medida que o tempo passa o jovem passa a ficar dependente da nicotina, como são os fumantes de cigarro convencional. Em acréscimo, os cigarros eletrônicos apresentam a facilidade da nicotina ser aumentada gradativamente, levando à dependência e à busca de outros produtos que contenham tabaco (3).
 
Como funcionam os cigarros?

Os cigarros eletrônicos ou dispositivos de vaping são formados por uma bateria, um reservatório onde fica a substância a ser vaporizada, além do elemento de aquecimento que vaporiza a substância. Assim, quando se utiliza esses aparelhos, ocorre o aquecimento da bateria e o líquido contido nele é transformado em aerossol, sendo inalado pelos pulmões e posteriormente exalado (4). Este dispositivo é de fácil acesso e é consumido por adultos e jovens.

Comércio proibido no Brasil e o desconhecimento dos danos para a saúde

No Brasil a fabricação e comercialização são proibidas, mas o acesso à compra é feito pela internet ou alguns pontos de vendas no comércio. Ainda existe um pensamento disseminado entre os jovens e consumidores de cigarro eletrônico ou vaping que a utilização do cigarro eletrônico não causa danos ao organismo. Entretanto, como dito acima, além da dependência à nicotina, as várias substâncias contidas no dispositivo podem causar doenças específicas. Há pouco tempo houve o surgimento em dezenas de consumidores, inicialmente nos Estados Unidos, mas também, posteriormente, em outros países, de um quadro clínico grave de lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, chamado pela sigla em inglês de EVALI, com alto grau de mortalidade aparentemente associada ao óleo adicionado ao dispositivo de vaping. Têm sido descritas outras doenças cardiovasculares e doenças pulmonares. Está muito claro, atualmente, que o tabagismo ou a vaporização de substâncias por meio do cigarro eletrônico são fatores de risco evitáveis e responsáveis por mortes, além de demandar alto custo para o sistema de saúde e diminuir a qualidade de vida do cidadão e da sociedade (2).

O perigo do tabagismo

Deve-se sempre lembrar que tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina que está presente nos produtos à base de tabaco. Dentro da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10), o tabagismo integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa, sendo classificada sob o código F17.0 (6).

Sem nenhuma dúvida, o tabagismo é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo (7).  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, sendo que mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto deste produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo (5).

Ainda segundo a OMS, de cada dois fumantes um deverá morrer de alguma doença causada ou associada ao cigarro.

Ações de controle do tabagismo no Brasil

O Brasil dispõe de um sistema de pesquisa e vigilância que possibilita a produção de estimativas nacionais e regionais sobre o uso do tabaco, exposição ambiental à sua fumaça, cessação, exposição à propaganda pró e anti tabaco, conhecimentos e atitudes, preço médio e gasto médio mensal com cigarros industrializados, dentre outras informações, o que possibilita o controle e a prevenção contra o tabagismo.
No Brasil, desde 2006, ocorre um monitoramento anual por telefone, um inquérito realizado em 26 capitais e no Distrito Federal com pessoas maiores de 18 anos, denominado VIGITEL (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico.), alcançando mais de 50 mil residências. Segundo dados do VIGITEL 2021, o total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1%, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres (8). A porcentagem de fumantes no Brasil vem diminuindo progressivamente, tendo caído de 33,6% em 1990 para estes números atuais. O Brasil é considerado como o país que mais rapidamente vem diminuindo o número de fumantes no mundo.

Assim, queremos enfatizar que qualquer forma de tabaco, além de causar dependência de nicotina, causa danos à saúde a curto e a longo prazo.

Serviço

Prevfumo Unifesp

Se você quer parar de fumar, em nossa instituição tem um programa de cessação de tabagismo.

O Núcleo de Prevenção e Cessação do Tabagismo (PrevFumo) foi criado em 1988 pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp e pelo Hospital São Paulo, com a finalidade de auxiliar fumantes que desejam parar de fumar. A equipe do PrevFumo é composta por médicos pneumologistas, psicólogos, fisioterapeutas e enfermeiros. A cada dois meses, há disponibilidade de horário para dez novos grupos. Todos os pacientes realizam teste de função pulmonar (espirometria).
O PrevFumo apresenta taxa de sucesso de 50% nos últimos 15 meses.
O tratamento adotado é gratuito, baseando-se nas normas do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), órgão do Ministério da Saúde responsável por regulamentar o tabagismo no Brasil. O tratamento não farmacológico constitui-se de técnicas cognitivo-comportamentais, abordadas em reuniões de grupo com a duração de oito sessões semanais de 90 minutos cada uma. Já a terapia farmacológica, que é fornecida pelo governo, disponibiliza adesivos de nicotina e bupropiona, medicamento via oral para diminuir a vontade de fumar.

Os interessados em participar do programa devem agendar um horário para avaliação individual e realização de teste de função pulmonar, pelos telefones (11) 5572-4301 ou (11) 5576-4848 (ramal 17004). O Ambulatório está localizado na Rua Botucatu, n.º 989 - Vila Clementino, São Paulo/SP, na Unidade de Reabilitação.

 

Autores

joserobertojardim

José Roberto Jardim
Professor Livre Docente aposentado da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp). Diretor da Unidade de Reabilitação Pulmonar da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp)/Hospital São Paulo. Outras Informações: http://lattes.cnpq.br/4320654878656075 

 

rosangelaprevfumo

Rosangela Vicente
Coordenadora do Núcleo de Apoio a Cessação de Tabagismo (PrevFumo) da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp)/Hospital São Paulo. Possui graduação em Psicologia (Universidade Ibirapuera, 2000). Outras informações, http://lattes.cnpq.br/1539293045729294


Referências Bibliográficas 
1-2- BARUFALDI, Laura Augusta; GUERRA, Renata Leborato; ALBUQUERQUE, Rita de Cássia Ribeiro de; NASCIMENTO, Aline do; CHANÇA, Raphael Duarte; SOUZA, Mirian Carvalho de; ALMEIDA, Liz Maria de. Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos: revisão sistemática e meta-análise. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 12, p. 6089-6103, 2021.
2-4-INCA (Instituto Nacional de Câncer, 2021; SANTOS et al., 202
3-1- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. Injúria pulmonar relacionada ao uso de cigarro eletrônico (EVALI). 2021
4-3- Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.4, p.26495-26503, apr., 2022
5-7. BRASIL. Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10 - 1997). Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=060203 Acesso em: 01 abr. 2020.
6-5-DROPE, J.; SCHLUGER, N.; CAHN, Z.; HAMILL, S.; ISLAMI, F.; LIBER, A.; NARGIS, N.; STOKLOSA, M. The Tobacco Atlas. Atlanta: American Cancer Society and Vital Strategies. 2018. Available at: https://files.tobaccoatlas.org/wp-content/uploads/2018/03/TobaccoAtlas_6.... Access in: 27 Fev. 2020.
7-6.PINTO, M; BARDACH, A; PALACIOS, A; BIZ, A; ALCATRAZ, A; RODRIGUEZ, B; AUGUSTOVSKI, F; PICHON-RIVIERI, A. Carga de doença atribuível ao uso do tabaco no Brasil e potencial impacto do aumento de preços por meio de impostos.
8-8- Vigitel Brasil 2021 de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico.