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O olho seco é uma doença extremamente comum que acomete milhões de pessoas no mundo, causando uma série de consequências médicas, sociais e econômicas. Essa doença é caracterizada pela diminuição da produção da lágrima e/ou deficiência de alguns de seus componentes, cursando com sintomas oculares de ardor, irritação, sensação de areia e embaçamento visual. Este distúrbio da lágrima pode produzir áreas secas e inflamação da superfície ocular, podendo trazer importantes repercussões na qualidade de vida dos seus portadores, inclusive perda da visão nos casos mais graves.
Imagem: Dreamstime.com
Conforme diversos estudos recentes, a prevalência de olho seco é maior do que se imaginava. Em 2022, a Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) relatou que 24% da população da cidade de São Paulo apresenta olho seco (Prevalence and Risk Factors for Dry Eye Disease in Brazil: the São Paulo Dry Eye Study. Arq Bras Oftalmol 2022). O clima seco, principalmente no inverno, e a poluição podem ter contribuído com a alta prevalência quando comparada com outras regiões do país. Identificou-se que o problema é mais comum nas mulheres e que há outros fatores associados ao quadro como idade, hipertensão e uso de medicamentos tópicos.
Outro estudo publicado pela EPM/Unifesp em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob o título Dry Eye Prevalence and Main Risk Factors Among Undergraduate Students in Brazil. Plos One 2021, avaliou mais de 2.000 alunos universitários das duas instituições. Aproximadamente 23% desses alunos apresentavam sintomas ou história prévia de diagnóstico de olho seco, também com maior incidência nas mulheres. Outros fatores de risco identificados foram tempo de uso de computador/celular, horas de sono abaixo de 6 horas, uso de contraceptivo oral e de lentes de contato.
Imagem: Shutterstock/Internet/Reprodução
O aumento de casos de olho seco tem chamado a atenção de médicos, pesquisadores, indústria farmacêutica e associações focadas no tema, como a Tear Film & Ocular Surface Society (TFOS), a maior sociedade internacional dedicada à questão e organizadora dos últimos consensos globais (workshops) sobre olho seco.
No Brasil, essa realidade inspirou a criação da Associação de Portadores de Olho Seco (Apos), uma organização não-governamental sem fins lucrativos fundada por pacientes, familiares e médicos em 1996. A Apos tem como missão a conscientização da sociedade sobre a existência da doença e a busca da melhoria da qualidade de vida dos seus portadores por meio de informação, educação e suporte psicológico. A Apos tem atuado em parceria com a classe oftalmológica, entidades médicas, imprensa e organizações públicas e privadas realizando uma série de iniciativas, dentre as quais destaco publicações na mídia, realização de webminars e posts para os oftalmologistas, realização de eventos e lives para a população e pacientes, apoio para pesquisas epidemiológicas, distribuição de kits diagnóstico para os oftalmologistas, distribuição gratuita de óculos de olho seco para pacientes carentes, criação de grupo de terapia para casos graves de olho seco entre outras.
O aumento de casos de olho seco tem chamado a atenção de médicos, pesquisadores, indústria farmacêutica e associações focadas no tema [...]
Por meio da parceria da Apos com a TFOS, foi introduzido em 2020 o projeto Julho Turquesa: Mês da Conscientização do Olho Seco, que busca conscientizar a sociedade acerca do tema. Em 2021, enfrentamos a pandemia da Covid-19, que modificou drasticamente nossos hábitos e rotina, introduzindo o confinamento social e aumentando exponencialmente as horas na frente das telas de dispositivos eletrônicos nas diversas dimensões de nossas vidas. O impacto no aumento de casos de olho seco e de outras doenças ligadas a essa nova realidade já começa a ser sentido, justificando a necessidade de divulgarmos ainda mais seus efeitos e do que pode ser feito para melhorar a qualidade de vida dos seus portadores.
Neste ano de 2023, a Apos e seus parceiros, incluindo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, a Associação Pan-americana de Oftalmologia e a Sociedade Brasileira de Córnea, voltaram a reforçar sua mensagem por meio de uma série de iniciativas e publicações nas mídias faladas, escritas e sociais, buscando informar a população e a classe oftalmológica sobre a doença do olho seco. Uma das iniciativas inéditas foi a de iluminar de turquesa os serviços de oftalmologia de importantes instituições públicas e privadas, concomitantemente com a distribuição de material informativo impresso sobre a doença.
Iluminação turquesa na fachada do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da EPM/Unifesp. Foto: Arquivo Pessoal
Acreditamos que essa onda turquesa envolvendo a união de organizações não-governamentais como a Apos e a TFOS, juntamente as Universidades e sociedades médicas, assim como imprensa, órgãos públicos e privados forjam a chave para aumentarmos a conscientização da população sobre essa doença tão comum e ainda tão desconhecida que é o olho seco.
Por José Álvaro Pereira Gomes
Médico oftalmologista, professor adjunto Livre-docente do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).Especializado em córnea, superfície ocular/olho seco, cirurgia refrativa e catarata.
Coordenador do Mestrado Profissional em Tecnologia, Gestão e Saúde Ocular (EPM/Unifesp); diretor do Centro Avançado de Superfície Ocular (Caso) da EPM/Unifesp; presidente científico da Associação dos Portadores de Olho Seco (Apos); e, board member da The Cornea Society, Sociedade Pan-americana de Córnea (PanCornea) e Tear Film and Ocular Surface Society (TFOS). Outras informações, clique aqui.