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Até 2030, três em cada dez adultos viverão com obesidade no Brasil. Esses resultados, produzidos por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) em parceria com outras instituições*, foram obtidos a partir da análise de mais de 700 mil entrevistas telefônicas realizadas no período de 2006 a 2019 na pesquisa Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico), do Ministério da Saúde.

O estudo utilizou dados de peso e altura de adultos residentes nas capitais brasileiras para calcular o índice de massa corporal (IMC = peso dividido pela altura ao quadrado). O IMC tem sido utilizado em estudos populacionais como uma variável preditora da adiposidade (acúmulo de gordura corporal), em que valores de IMC ≥30 kg/msão utilizados para identificar pessoas que estariam vivendo com obesidade.

 

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O IMC é calculado dividindo o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros): IMC = Peso ÷ (Altura × Altura)

 

Riscos e consequências da obesidade

As consequências da obesidade para a saúde estão bem estabelecidas na literatura científica.

A obesidade aumenta o risco de diversas doenças, como diabetes, hipertensão, doenças do coração e até mesmo alguns tipos de câncer. Portanto, trata-se de um importante fator de risco para as doenças que mais matam em todo o mundo e no Brasil.

Os dados da série histórica do Vigitel sugerem que a prevalência de obesidade nas capitais brasileiras, isto é, a proporção de adultos vivendo com obesidade, saltou de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. Se a tendência de aumento da prevalência de obesidade se mantiver a mesma do período analisado, estima-se que três em cada dez adultos (30%) no Brasil estarão vivendo com obesidade até 2030. O estudo sugere ainda que a prevalência de obesidade será maior em mulheres, pessoas pretas e pardas, com menos de 7 anos de estudo, e residentes nas capitais localizadas nas regiões Nordeste e Centro-oeste do Brasil. 

Contexto brasileiro

A epidemia de obesidade no Brasil reforça a importância da prevenção primária para redução da trajetória preocupante da obesidade em nosso país. Além disso, os resultados mostram que a obesidade afeta grupos mais desfavorecidos socioeconomicamente, que tendem a ter menos acesso à saúde e piores indicadores de saúde. Portanto, políticas de saúde pública direcionadas à prevenção da obesidade e redução das desigualdades sociais podem reduzir a carga de doenças para as gerações futuras e mudar a tendência prevista e proteger indivíduos vulneráveis.

É imperativo que tenhamos políticas públicas e intervenções baseadas em evidências científicas que propiciem ambientes saudáveis e adequados à prática de atividade física e, principalmente, a segurança alimentar e nutricional da população. Por exemplo, evitar o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados está entre as principais mensagens do Guia Alimentar para a População Brasileiro. No entanto, paradoxalmente, incentivos fiscais à produção de refrigerantes continuam sendo oferecidos em nosso país (Decreto no 10.254/2020). Esses benefícios fiscais têm como consequência a redução do preço de refrigerantes e bebidas açucaradas, às custas de menor arrecadação fiscal, estimulando o consumo dessas bebidas fortemente associadas à obesidade.

 A importância do controle da obesidade

É fundamental que neste Dia Nacional de Prevenção da Obesidade possamos discutir a obesidade como um problema de saúde pública, livre de estigma, especialmente porque as causas da epidemia da obesidade estão muito mais relacionadas com nosso sistema econômico e alimentar do que mera escolha individual. Em ano eleitoral, conclamo que políticos e tomadores de decisão apoiem a implementação e o fortalecimento de políticas públicas e intervenções voltadas à prevenção e controle da obesidade no Brasil.

 

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Por Leandro Rezende

Professor Adjunto do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Outras informações, clique aqui.  

 

(*) Instituições participantes do projeto: Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, Universidade de São Paulo (Nupens/USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidad de Santiago de Chile (USACH), Universidad Mayor (Chile), Centro Universidade Saúde ABC, Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP) e Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS).

Os resultados do estudo podem ser acessados no seguinte endereço eletrônico: https://rezendelfm.github.io/obesidade-e-as-dcnt/.