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O neurologista Fabiano Moulin, médico do Departamento de Neurologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), explica o que acontece no cérebro quando a gente sente gratidão.

 


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Imagem: World Rag

 

"A gratidão é uma das emoções mais espetaculares que o ser humano tem o privilégio de sentir. A gratidão faz com que nesse momento, tudo o que eu tenho e não o que eu já tive, ou que eu vou ter, seja suficiente para que eu possa me sentir um privilegiado, para que eu não torne algo que parece banal como banal, porque nada é banal.

[...] Você está agora em casa, podendo ler isso tranquilo no seu sofá. Isso parece a coisa mais banal do mundo, mais atoa do mundo e mais simples do mundo. Não é. Estar vivo não é banal. Ter seu cérebro funcionando permitindo que você esteja consciente, atento, falando, movimentando os membros, não é. E essa percepção, esse exercício de pegar aquilo que parece básico, que parece normal e entender que isso é um grande privilégio, faz com que a gente consiga dar mais valor ao que a gente tem.

Isso não quer dizer que você não possa sonhar mais. Não possa querer mais coisas, mas definitivamente achar que porque você já tem isso não é valorizável ou não vale nada, é um desperdício de estar vivo e nesse processo da gratidão de valorizar o que eu tenho, eu estimulo no meu cérebro, eu reduzo a minha pressão arterial. Então pessoas mais gratas tem uma pressão arterial menor, tem menos risco de infarto, menos risco de AVC. Eu libero mais hormônios, como a ocitocina, que permitem que a minha interação social seja melhor. Eu consigo felizmente aumentar a produção no meu cérebro de neurotransmissores que tem a ver com a felicidade, com tomada de decisão melhor, com foco melhor.

Quando a gente tem pertencimento e propósito, a gente vai para a frente, a gente se sente bem, a gente se sente feliz. A gratidão promove equilíbrio e equilíbrio é sinônimo de saúde, por isso que é tão interessante. Equilíbrio é sinônimo de saúde, que é sinônimo de felicidade quando a gente fala de saúde mental.

Quanto mais grato eu sou, mais eu estou contente com a minha situação atual. Eu não estou me comparando com o passado. Não estou ansioso pelo futuro. Eu estou aqui agora e isso é o único tempo mental que existe. Quando eu me perco no passado, eu me perco no futuro, eu aumento o risco de ansiedade e de depressão. Por isso que o exercício da gratidão, inclusive, pode ser um tratamento ou uma prevenção para a ansiedade e depressão. A minha sensação quando eu estou grato é de pertencimento. Eu estou na universidade agora, eu tenho o privilégio de ser professor. Eu tenho o privilégio de atender pacientes aqui. Eu tenho o privilégio de ensinar aqui. Eu sinto parte desse todo. Eu sinto fazendo diferença no mundo. Eu sinto nesse momento conversando com vocês, transformando conhecimento em sabedoria, difundindo coisas boas para o mundo todo. Isso é uma gratidão, essa sensação de pertencimento, de propósito.

Quando a gente tem pertencimento e propósito, a gente vai para a frente, a gente se sente bem, a gente se sente feliz. A gratidão promove equilíbrio e equilíbrio é sinônimo de saúde, por isso que é tão interessante. Equilíbrio é sinônimo de saúde, que é sinônimo de felicidade quando a gente fala de saúde mental.

A gratidão torna uma balança que todos nós temos, que é inclinada para o negativo. Se eu ganho 100 reais ou se eu perco 100 reais, o perder 100 reais desencadeia muito mais estímulos no meu cérebro espontaneamente do que ganhar 100 reais. Se eu deixo de ganhar um abraço e ganho um abraço, o deixar de ganhar um abraço, a rejeição provocada por isso promove no meu cérebro e no meu corpo muito mais reações. E isso é como o nosso cérebro funciona espontaneamente. Seu dia vai todo certo, acontece uma coisa ruim: o quê acontece? O dia inteiro foi ruim. Quando a gente faz e torna o exercício da gratidão diário, contínuo, quando você consegue perceber nas pequenas coisas, você e eu estamos vivos, a câmera tá funcionando. Isso parece banal e não é. Quando eu faço esse exercício, o dia fica mais leve ou no mínimo, eu faço um balanço desse negativo, que na verdade você vai perceber que é muito menor do que parece e o positivo muito maior. E para isso tem alguns exercícios super ricos."

 

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Mantenha um diário de gratidão

"Um exercício que funciona, isso tem evidência para pacientes com depressão, com ansiedade e paciente sem doença, que você quer prevenir esses quadros, é fazer o que chamamos de diário da gratidão. Chega hoje à noite em casa, pega um caderno, escreve três motivos pelos quais você é grato, no começo é superdifícil. Parece que você tem que ganhar na mega sena, ser promovido, ganhar o dobro do salário e por aí vai. Com o tempo isso vai ficando mais fácil. Você vai ficando grato porque o elevador não quebrou, porque o carro não quebrou, porque o preço da gasolina não aumentou. Porque as contas esse mês fecharam, por exemplo. E o que é bonito é que você tem que escrever por quê. O porquê vai te obrigar a matutar sobre isso, a pensar sobre isso. E o que é legal aqui não só vai ficando mais fácil à noite você ser grato, mas durante o dia, quando você entrar em contato com uma situação positiva, na hora você vai falar: puxa isso está legal, obrigado. Pode ser um obrigado para a pessoa que acabou de fazer uma coisa legal. Então, alguém te deu espaço no trânsito, dá buzina, dá dois toques para agradecer. Abra a porta para quem está passando, ou segure a porta do elevador para quem está entrando. Ria mais. Interaja com as pessoas, presumindo o melhor e não o pior. Isso já ajuda mais, inclusive aqui vai um exercício que todos vão fazer: manda agora um obrigado por áudio ou por mensagem do seu telefone, para uma pessoa que você queria agradecer há muito tempo que você acabou deixando passar. Veja a delícia que vai ser. A resposta que ela vai dar e a sensação que você vai ter de volta quando ela retornar para você. Não é que você tem que esperar o retorno, não espera, só manda por mandar, mas eu te garanto que cria ondas de positividade que felizmente retorna e o dia fica melhor, seu e da pessoa que você mandar e ela vai ter um ato de gratidão, provavelmente que vai levar a um ato de gratidão. E, felizmente, você acaba expandindo essa onda do bem, essa onda de gratidão e de equilíbrio."

 

(*) Entrevista concedida ao Domingo Espetacular da TV Record